À frente da recriada Secretaria Municipal de Turismo de São Paulo, o secretário Rodolfo Marinho enfrenta o desafio de promover o turismo da cidade no pós-pandemia
Por Carlos Eduardo Oliveira
Durante um período recente, a gestão do turismo de São Paulo, essencial, enquanto receita, ao município, viu-se relegada sob o “guarda-chuva“ de outras secretarias, sem poder trilhar sobre pernas próprias. Esse panorama mudou: do alto de um orçamento de cerca de R$ 315 milhões, cabe agora ao secretário Rodolfo Marinho o desafio de administrar a reativada pasta. Desafio, aliás, que não se resume à gestão do turismo em si. “As politicas públicas do turismo abrangem um leque muito grande. Você não consegue efetuá-las só com sua pasta, precisa da parceria de outras secretarias”, avalia Marinho, em entrevista exclusiva à HANDS ON.
HANDS ON – Qual a situação da secretaria, anteriormente à sua gestão?
Rodolfo Marinho – Em 2021 ela não foi exatamente extinta, mas virou uma subsecretaria abaixo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Entre 2021 e até março de 2022, foi uma secretaria dentro da outra. Algumas atribuições ficaram com o Turismo, outras foram para a Secretaria de Lazer, ligada à pasta de Esportes. Mas a verdade é que não tínhamos o braço operacional para colocar as politicas públicas do Turismo na rua. Em conversas com o prefeito Ricardo Nunes, em dezembro de 2021 começamos a discutir a volta da secretaria, que em março de 2022 foi aprovada em segunda votação na Câmara Municipal. O prefeito sancionou, e a secretaria voltou a exercer o que precisa executar como pasta.
HANDS ON – A partir daí, quais as principais diretrizes para a secretaria?
RM – O primeiro fato a destacar é que as politicas públicas do Turismo abrangem um leque muito grande. Você não consegue efetuá-las só com sua pasta, precisa da parceria de outras secretarias. E, para isso, precisa do CNPJ de uma pasta constituída, caso contrário os projetos não saem do papel. Por exemplo, trazer o trade do turismo para discussões de que forma vamos tratar o segmento dos hotéis, as linhas aéreas, a malha viária da cidade, a exposição do turista à gastronomia, pontos turísticos, museus, teatros, etc. O ponto principal é a reativação de todo esse leque de parcerias. Dessa forma, o turista tem informações mais concentradas sobre o que fazer e onde ir, quando chega a São Paulo.
HANDS ON – O que vem a ser o Plano Municipal de Turismo?
RM – No momento, estamos estruturando a requalificação dele. Quando foi criado, em 2018, não se tinha ideia de que apareceria uma pandemia. Muitas coisas mudaram. Na essência, trata-se de um plano de metas até 2030 para o turismo da cidade, muito bem detalhado. Um plano de metas muito extenso, que estamos requalificando para termos uma melhor diretriz para onde vamos.
HANDS ON – E quais as prioridades do Plano?
RM – São inúmeras, mais de trinta, de diversas áreas, que esperamos cumprir até 2023. São basicamente as prioridades pré-pandemia, ajustadas para 2023.
HANDS ON – Como gestor público, quase as suas prioridades pessoais para a pasta?
RM – Expor e levar a cidade de São Paulo o mais longe possível. Um trabalho árduo de exposição da cidade para outros lugares do mundo, no intuito de atrair mais turistas. Mas acima de tudo, precisamos atender bem quem já está aqui. Para isso temos as políticas públicas do turismo interno, tanto para quem mora na cidade quanto para quem chega de outras partes, sejam cidades, estados ou outros países. Precisamos entender o que esse turista faz na cidade enquanto está aqui. Temos um turismo de compras extremamente ativo, e de gastronomia, idem, ambos geram uma cadeia muito forte ao seu redor. São apenas dois exemplos, há outros. A ideia de reativação da secretaria é ter como política de gestão arquitetar informações de forma a termos dados de onde estamos e para onde vamos. Um planejamento macro. Esse é o ponto principal.
HANDS ON – Quando o senhor menciona parcerias, quais outras podem ser buscadas?
RM – Posso citar como exemplo a UCCI (União de Cidades Capitais Ibero-americanas), órgão internacional com o qual temos parceria para promoção de São Paulo no mundo todo. Em 2022, logo após a reativação da secretaria, fomos ao primeiro encontro, para discutir a dinâmica desse trabalho. Na América latina, por exemplo, São Paulo comparece a todos os eventos da UCCI. O mesmo acontecerá em 2023, nos eventos na Europa. Isso dá à cidade uma enorme projeção internacional. Essa é uma das parcerias. Há outras, como a parceria com a Secretaria de Relações Internacionais, que estabelece a ligação entre São Paulo e outros municípios do mundo. Sendo que o turismo faz parte dessas negociações. Isso é muito válido, temos a Secretaria de Relações Internacionais tomando a frente nesse trabalho, com a Secretaria de Turismo também participando do processo.
HANDS ON – Como se dá o trabalho conjunto com o Visite São Paulo?
RM – Já há algum tempo tenho falado muito com o Toni Sando (presidente do Visite São Paulo – São Paulo Convention & Visitors Bureau e da UNEDESTINOS – União Nacional de CVBs e Entidades de Destinos) para iniciarmos a parceria. Já o conhecia do tempo em que fui secretário adjunto, entre 2019 e 2020. O problema é que quando reativamos a secretaria, em meados de 2022, nosso orçamento era extremamente curto. Com isso, reprogramamos a sinergia com o Visite São Paulo para 2023, através da exposição e apresentação da cidade em feiras e congressos internacionais. E, da mesma forma, para coletarmos o que de bom está acontecendo no exterior, em termos de iniciativas do gênero. Para este ano está programada uma agenda de eventos em que ambos participaremos conjuntamente.
HANDS ON – Em participações em eventos recentes, você tem destacado a importância de mais atenção ao centro da cidade, que necessita de melhorias urgentes.
RM – O centro de São Paulo é assunto delicado, mas posso adiantar: a gestão pública liderada pelo prefeito Ricardo Nunes está extremamente empenhada a promover as mudanças necessárias. Já tivemos muitas reuniões inter-secretariais envolvendo a cultura, a segurança, a assistência social, entre outras pastas, para debater as ações. Também tivemos debates com a Pro-Centro, entidade muito ativa nesse sentido. Dentre essas intervenções, posso destacar as melhorias na assistência social, que vem tentando requalificar o problema grave dos moradores de rua; na segurança urbana, o policiamento mais que dobrou, fato que não existia até maio de 2022; e estamos tentando resolver os principais gargalos de mobilidade. Com relação ao turismo, sua eficiência é basicamente o retorno dessas políticas públicas bem feitas. Porque se não o forem, o turista não vem. Por outro lado, também temos cases de sucesso na região, como o Centro Cultural Banco do Brasil, o Farol Santander (N.E. – café e restaurante) e outros, que propulsionam o turismo dentro do chamado triangulo histórico, no centro da capital. Vale destacar ainda as inume
HANDS ON – A cracolância tem jeito?
RM – Acho que sim. Para o biênio 2023/2024, teremos um avanço nessa questão. Não é apenas uma questão urbana, mas de um planejamento em 360 graus, tendo em vista que ela existe há cerca de trinta anos. Não se resolve isso em meses. É necessário um trabalho de segurança urbana, assistência social, direitos humanos, entre outros, em volta do problema. Esse é um dos focos do prefeito Ricardo Nunes, tenho acompanhado algumas reuniões e a rédea continua firme nessa questão. Temos secretarias empenhadas em fazer isso acontecer de forma bem feita. E há também o envolvimento do novo governo e do governador Tarcísio de Freitas, que já destacou um olhar mais ajustado para o centro de São Paulo.
HANDS ON – Dentre as pautas da secretaria, tem sido destacada a importância de grandes eventos como Festival Lollapalooza, o GP São Paulo de Fórmula 1 e outros. Qual o approach da secretaria para esses eventos?
RM – São Paulo é extremamente rica em entretenimento, se houver igual no país, desconheço. E esses são eventos propulsores do turismo. O Lolla, por exemplo, traz à cidade durante quatro dias cerca de 300 mil pessoas, ao ticket médio de R$ 1.250 e uma movimentação financeira na faixa de R$ 700 milhões – é muita coisa, para apenas quatro dias de evento. Isso faz girar a gastronomia, a hotelaria e uma série de outras coisas. Temos que destacar esses cases de sucesso no campo musical, até porque em 2023 teremos outros, como o The Town, para o qual já firmamos parceria com o Roberto Medina (obs: empresário criador do Rock in Rio e, agora, do The Town). Já a Fórmula 1, em movimentação financeira, é o maior evento da cidade, na casa de 1,3 bilhão de reais ao longo de uma semana, com o turista permanecendo em media quatro a cinco dias na rede hoteleira. É um divisor de águas, com a cidade sendo exposta a mais de 150 países e a um público gigantesco no mundo todo. Uma exposição de mídia incalculável, a qual, se estivéssemos investindo, seria algo na casa dos R$ 350 milhões. Quanto ao carnaval, o de São Paulo já é o maior do Brasil. Rio e Salvador têm outros desenhos em seus carnavais. Mas em números quantitativos, São Paulo já é o maior do país.
HANDS ON – Esses eventos dialogam com uma camada de brasileiros mais privilegiada, economicamente. E quanto a quem não têm acesso a eles?
RM – Com o retorno da secretaria, uma de nossas primeiras ações foi o programa “Vá de Roteiro”. Nele, estabelecemos parcerias com eventos culturais para a gratuidade da entrada – com o Museu do Ipiranga, por exemplo, temos uma boa parceria. A previsão é de chegarmos a 50 roteiros turístico-culturais gratuitos. Temos ainda grandes eventos 100% gratuitos, como a Virada Esportiva e a Virada Cultural. E há pouco, na época do Natal, promovemos mais de cem eventos gratuitos na cidade. A ideia é sempre descentralizar, levar eventos para fora da região central, para as periferias, onde as pessoas têm menos acesso. E esse é um trabalho ao qual daremos continuidade em 2023.
HANDS ON – Como a secretaria avalia o retorno, após a pandemia, do segmento M.I.C.E., de feiras, eventos e congressos?
RM –O maior número de turistas que recebemos na cidade hoje é de feiras e congressos. A rede hoteleira fica ocupada de segunda a quinta feira, mas ainda tem déficit, em alguns períodos do ano, nos finais de semana. Em 2023 retomaremos uma ideia surgida em 2022 que é o projeto “Fique Mais Um Dia”, para que o turista que venha a congressos use também nossos parques, museus, teatros e restaurantes. A renovação desse projeto já está em andamento, e cabe à secretaria o trabalho de tentar entender quem são e quais as demandas desse contingente que vem a São Paulo a negócios, a trabalho, ou para feiras e congressos. Temos que tentar reter esse turista um pouco mais.
HANDS ON – O que tem sido feito para aumentar a sinergia entre o poder público e esse segmento?
RM –Parcerias com a rede hoteleira e com associações de hotéis e com o segmento da gastronomia. Com a gastronomia, trabalharemos com vouchers e criando promoções em determinadas feiras e eventos, para tentar dar ao turista acesso a alguns restaurantes mais aos quais talvez ele não tivesse acesso no seu cotidiano. É um segmento essencial para a cidade e, de nossa parte, também estamos em contato com entidades do setor para contribuir como for possível. Há ainda a participação de nosso Conselho Municipal de Turismo, esfera onde podemos discutir as principais demandas dos setores turísticos.
HANDS ON – Que análise pode ser feita do legado do secretário Vinicius Lummertz?
RM – O secretário Lummertz fez uma excelente gestão à frente do Turismo do Estado. Estive recentemente com o novo secretário, Roberto de Lucena, e coloquei a SMTUR à disposição para juntos atuarmos no fomento ao turismo da cidade de São Paulo.