Como empresas que prestam serviços em feiras, eventos
e congressos se reinventaram rapidamente para sobreviver
em tempos de distanciamento social
Desde o mês de março, quando a pandemia do novo coronavírus colocou as pessoas em isolamento social, afetando muitos negócios, o mercado de feiras e eventos foi um dos que mais sentiu. Um levantamento da Ubrafe (União Brasileira dos Promotores Feiras), mostrou que a paralisação no primeiro semestre gerou uma perda de R$ 5,9 bilhões para as empresas do setor de eventos do sistema expositor. O caminho? Mudança de mindset, entender que o digital veio para somar, fazer bom uso das novas tecnologias e ter uma liderança inovadora.
Celso Santi, da Programasom, produtora de vídeo pioneira na prestação de serviços multimídia para eventos no mercado nacional, com expertise e infraestrutura para atuar em projetos de grande porte, lembra que seu último evento presencial foi no dia 14 de março. Em seguida, precisou cancelar todos os projetos agendados para o primeiro semestre do ano. “Durante essa primeira semana de quarentena eu fiquei muito incomodado, fiquei nervoso, foi uma semana difícil. Foi um tsunami”, diz.
O que Santi nem ninguém sabia é que isso duraria muito mais do que os três meses que se esperava. Já se passam sete meses de quarentena e quem não se reinventou de imediato hoje sofre com demissões de funcionários, queda de faturamento e, infelizmente, fechamento de empresas. Profissionais do setor precisaram buscar novas estratégias e tomar decisões certeiras e rápidas para navegar diante desse cenário novo e desconhecido. E tudo isso equilibrando as prioridades de saúde, tomando cuidados com a segurança dos patrocinadores, colaboradores e participantes, ao mesmo tempo em que se movimentaram para cumprir com as obrigações financeiras e tentar minimizar as perdas.
A TV na internet
Com as novas tecnologias tomando conta das nossas relações pessoais e de trabalho – processo acelerado devido o distanciamento social imposto pela pandemia, mas que já era uma realidade próxima – empresários com mindset digital e inovador como Santi, saíram na frente. “O histórico da Programasom em relação a transmissão digital já tem 10 anos, já transmitimos eventos via satélite nos Estados Unidos para plateias de mais de seis mil pessoas, já tivemos um canal dentro da TV UOL em 2010. Em alguns eventos presenciais corporativos, como congressos médicos, em que a plateia não era suficiente para o cliente em termos de atingimento de mensagem, sempre transmitíamos as palestras também online. A transmissão por streaming já existia faz tempo, mas hoje temos uma qualidade da internet melhor e tecnologias que melhoram a cada ano”, diz.
Entendendo que o caminho hoje é utilizar a tecnologia do streaming – que vem ganhando força também com canais de entretenimento, como Amazon e Netflix, enquanto a TV a cabo e satélite perdem espaço, Santi foi além: percebeu que os clientes precisavam de mais, de espaço, de direção e, inclusive, de um apoio técnico para fazer bom uso dessas novas tecnologias. Foi aí que ele rapidamente transformou toda empresa. “Nos equipamos com ferramentas necessárias para a transmissão streaming, como câmeras de alta qualidade, computadores de alta performance que gerenciam esse conteúdo, que vai desde a transmissão das imagens até a edição, aumentamos a estrutura técnica dos nossos computadores, a qualidade da banda larga. Temos hoje 1500 metros quadrados de salas construídas, com estúdio de TV com fundo digital, iluminação de Chroma Key, Teleprompter, salas de palestras, sala VIP, estacionamento e demais facilidades para atender nossos clientes”, conta Celso, que atende tanto o mercado de lazer, como corporativo.
Com essa mudança de estratégia, Celso Santi conseguiu manter seu negócio não somente de pé, mas funcionando a todo vapor, gerando empregos e virando referência no segmento. Congressos médicos, por exemplo, não podem deixar de acontecer e, em tempos de isolamento social, eles foram transmitidos online para especialistas do mundo todo. “Temos agora um congresso de urologia com 160 palestras, um de oncologia com 250, além de um evento do Sebrae Paraná com 60 palestras”, conta. E o diferencial é a Programasom faz um trabalho completo, desde o agendamento das palestras, preview para ver se está tudo ok com o palestrante, checagem de áudio, microfone, imagem, gravação das palestras, edição e transmissão ao vivo no dia do evento. Somente no congresso de oncologia, serão 13 traduções simultâneas ao mesmo tempo, com dois tradutores por cabine, um staff de técnicos por volta de 70 pessoas. “Além de toda essa infraestrutura temos pessoas com expertise de eventos que já realizaram trabalhos em todas as capitais brasileiras, na Europa, nos Estados Unidos. Quando tivemos a Fórmula Indy aqui em São Paulo, a Programasom colocou 50 câmeras no Anhembi para captar as imagens.
Não dependemos de ninguém do mercado. Temos a solução completa aqui”, diz Celso.
E como fica o futuro? Para Mário Luís Santi, engenheiro eletrônico e responsável pela área técnica da Programasom, as transmissões online vieram para ficar e, além das pessoas já terem se acostumado com a informação a distância, ele acredita que esse modelo ajudará a levar informação de maneira mais uniforme a todos os cantos do Brasil que é um país muito grande. “O streaming veio para ficar e vai encontrar seu espaço no mercado. É o futuro, porque você pode criar televisões com transmissões via internet muito mais baratas que via satélite. E as tecnologias estão cada vez se integrando mais. Com um telefone você pode assistir um evento ou congresso a distância em qualquer lugar do mundo, com a liberdade de não ficar preso a televisão”, diz Mário.
Neste momento, apesar da retomada de alguns eventos físicos, o digital permanece. A tendência é o formato híbrido, uma parte presencial e uma online, mas alguns vão continuar online, já que as empresas perceberam as vantagens desse formato, como um alcance maior de pessoas, economia com hospedagens e transportes, além de toda a segurança que ainda é preciso ter já que não temos o fim da quarentena nem a vacina contra o coronavírus ainda. “Nos equipamos para oferecer essa estrutura por um bom tempo. Fizemos um esforço de marketing e divulgação para isso. Já tínhamos a intenção de uso desse estúdio e a pandemia só acelerou esse processo. Hoje, muitos clientes vão perceber que, principalmente, quando se quer trazer um palestrante de peso que seja de fora do Brasil, os custos do evento digital são muito menores. E o melhor é que podemos trabalhar com vários formatos: palestrantes virtuais e plateias ao vivo em um determinado local, todos em ambiente virtual, plateia virtual e palestrantes juntos em um local para debater um tema e por aí vai”, conta Celso Santi. Ela dá como exemplo um evento médico que será gravado e transmitido do Hospital Samaritano da Bela Vista pela equipe da Programasom, com uma plateia de médicos reunidos para assistir o congresso virtualmente, no WTC Events Center, no Brooklin.
Redescobrindo o lazer
A DMR Karam, que atua na produção e organização da estrutura física de eventos, foi uma das empresas afetadas pela paralização, mas que rapidamente se reinventou para sobreviver ao momento.
Segundo o fundador da empresa, Dimar Karam, eles sempre tiveram a esperança de que as coisas iriam retomar e foi isso que deu força dia após dia para continuarem. “Quando entramos em quarentena lá em março, a maioria das empresas estimou que o período parado seria de três meses. Então quem tinha recursos usou o que tinha para sobreviver, outros buscaram ajuda financeira com bancos para segurar os três meses previstos, a princípio, para a retomada.
Mas, quando se passaram esses três meses e a gente percebeu que esse período começou a ser ampliado, aí começou o desconforto e o desespero para quem não tinha mais recursos para ficar parado. E ainda com aquela dúvida: quantos meses ainda virão”, lembra Dimar.
Nesse período, surgiram alguns trabalhos, mas que ele sabia que eram oportunidades trazidas pela pandemia e que eram pontuais, como a montagem de um hospital de campanha. “Começamos a ficar mais atentos ao mercado, às possibilidades, pensando no que poderíamos fazer e sempre pensando no pior cenário. Eu falo que eu tenho que ser o pessimista, acreditar que não vai dar certo, questionar se não vai dar”, conta o empresário.
Mas, o isolamento social também nos fez rever novas formas de lazer. “Nós percebemos o movimento da sociedade que se trancou, depois não aguentava mais ficar dentro de casa, queria ir para a rua. Mas como fazer isso com segurança? Então a primeira possibilidade foi o carro, com a volta dos eventos drive-in”, diz. Porém, nada se compara a poder descer do carro e curtir mais livremente cada momento, sentir o vento bater no rosto, depois de tanto tempo isolados em casa. Foi então que Dimar começou a se questionar: “como tirar as pessoas de dentro do carro de forma segura e confortável”? Daí surgiu um projeto inovador e que colocou a DMR Karam de volta à ativa no cenário de eventos: o “Arte & Gastronomia”. “Nossa ideia é retomar todos os sentidos do ser humano: o paladar, a visão, a audição, o tato. E com isso, vamos fomentar três setores: música, arte e gastronomia em uma experiência única”, conta Dimar.
A DMR Karam entra com toda sua expertise na produção e organização da estrutura física de eventos para que o público possa desfrutar de um momento de lazer, fora do seu carro, mas com toda segurança que o momento exige. O espaço receberá os carros dos visitantes, no mesmo formato dos eventos drive-in, em que cada carro pode entrar com até quatro pessoas, mas eles poderão descer e ficar ao lado do veículo em um camarote coberto e exclusivo, onde poderão se sentar à mesa para comer, beber, conversar e desfrutar de um lazer mais agradável.
A gastronomia fica por conta de parceiros do projeto. São dois restaurantes por noite, de consagrados chefs brasileiros, servindo entrada, prato principal e sobremesa. “O serviço é todo independente. Quando o cliente compra o ingresso ele já escolhe o cardápio desses restaurantes parceiros do projeto que serão servidos no dia do evento.
Tudo é feito sem contato com garçom, ele tem acesso a cozinha, na parte de traz do camarote, preservando, assim, a integridade de todos. Acreditamos que ter a sensação de segurança é muito mais do que oferecer a segurança. Você tem que se sentir seguro”, analisa Dimar Karam.
Os espetáculos não têm como objetivo levar artistas consagrados, mas artistas que precisam retomar seus trabalhos e que possam levar cultura de qualidade ao público que está carente desse tipo de lazer há sete meses. “Investimos em curadoria gastronômica, curadoria artística, que passa por stand up, música, circo e uma série de atividades, gestão de operação, gestão de tecnologia, gestão de marketing com divulgação e plano de mídia. Temos uma grade de programação fixa e o público estimado é de seis mil pessoas durante o mês. A ideia é fazer com que, o quanto mais pessoas pudermos agregar nesse projeto, o quanto mais conseguirmos atingir como público, estaremos melhorando a vida de muita gente”, diz o idealizador do evento.
O “Arte & Gastronomia” acontecerá no Memorial da América Latina, de quinta à domingo com jantar em dois períodos e, aos sábados e domingos, com almoço e jantar em dois períodos.
Apesar de atender as necessidades do momento, o festival não é um evento de oportunidade, mas um novo conceito de eventos, tanto é que a DMR já está abrindo também uma grade de programação corporativa, inovando e voltando a movimentar o segmento de eventos, tanto de lazer, como de negócios. “Estamos revendo o passado com os eventos drive-in, resgatando suas funcionalidades e as repaginando para o nosso momento. É isso que temos que enxergar para fazer nosso normal, para recriar o nosso futuro. Estamos procurando o normal de novo e não criando um novo normal”, finaliza Karam