PATRÍCIA RADY MÜLLER
Infectologista, clínica geral e pesquisadora clínica

Com a pandemia  da  Covid-19 as pessoas passaram a ter mais preocupação a imunidade. Mas, afinal, o que é imunidade? Imunidade é definida como a “capacidade de resistir a um agente causador de doença. A imunidade envolve componentes específicos e inespecíficos: os componentes inespecíficos atuam como barreiras ou eliminadores de uma ampla gama de patógenos, independentemente de sua composição antigênica. Outros componentes do sistema imunológico se adaptam a cada nova doença encontrada e podem gerar imunidade específica ao patógeno”.

Como agentes específicos da imunidade, temos células do nosso sangue que fazem essa defesa (imunidade celular) e a formação de anticorpos, quando entramos em contato com algum agente infeccioso invasor do nosso organismo, IgA, IgM e IgG, dentre outros (imunidade humoral).

Sobre a imunidade inespecífica é que eu gostaria de falar aqui, pois não é raro as pessoas me procurarem no consultório por desconfiarem que a imunidade delas está baixa, visando descobrir o que poderia levar a isso. A imunidade inespecífica é muito importante e muitas vezes não vamos encontrar alterações em exames que a justifiquem. Estamos falando de um conjunto de fatores que envolvem hábitos de vida. Esses fatores são: hidratação, alimentação, atividades físicas, ciclo sonovigília, exposição solar, realização de atividades físicas, saúde mental, tabagismo, ingestão de álcool, dentre outros. Por não aparecerem em exames laboratoriais ou de imagem, muitas vezes não são tão valorizados.

Na Europa e nos EUA não existe o hábito de se fazer “check up” como aqui no Brasil. Fazer exames onera quem o faz, seja de forma particular ou através de seguro saúde e, muitas vezes, nos dá uma ideia errônea de que está tudo bem com  nossa  saúde.  A menos que tenhamos uma predisposição genética para alteração de algum exame que aparece no sangue, por exemplo, essa alteração na idade adulta vai se mostrar quando por anos a natureza lutou contra um hábito de vida inadequado.

De acordo com publicação na revista Lancet, onde foram acompanhadas 130 mil pessoas de 17 países, incluindo o Brasil, divididas em grupos de sedentários e não sedentários, observamos que a pessoa sedentária tem mais chance de desenvolver uma doença cardiovascular, câncer e diabetes mellitus do que uma pessoa que faz 150 minutos de atividade física na semana, independentemente de genética e peso. Isso se deve a produção de substâncias inflamatórias no organismo de uma pessoa sedentária, que são as mesmas substâncias encontradas em grande quantidade no  organismo de uma pessoa com Covid-19. Essa inflamação não aparece nos exames habituais de sangue. Aliás, existe um outro estudo recente sobre atividades físicas e Covid-19, realizado por pesquisadores em Santa Catarina, que mostra que os sedentários têm uma maior susceptibilidade, pior evolução e desfecho na Covid-19. O tabagismo é um fator responsável por várias alterações no nosso organismo, como a participação na for- mação de placas que entopem vasos sanguíneos no coração e no cérebro, pois o cigarro altera a camada in- terna de todos os vasos sanguíneos, além de acometer diretamente pulmões, boca e aparelho digestivo.

Quanto à alimentação, precisamos abrir menos embalagens e descascar mais. Isso significa ter uma dieta menos industrializada e mais natural. Assim, cuidamos também do funcionamento do nosso intestino que é um importante órgão envolvido diretamente na nossa imunidade. É de grande importância nos hidratarmos de forma adequada. Assim, temos um melhor funcionamento do nosso sistema cardiovascular, cerebral e intestinal. Temos que tomar de 1,5 a 2 litros ao dia, desde que a cada duas horas urinemos. A boa hidratação previne sintomas de dores de cabeça, alterações da pressão, inchaço no corpo. A natureza é sábia. Se não bebemos água ela começa a reter essa água no nosso organismo e não a “desperdiça” no ato de evacuar, por exemplo.

A Covid-19 colocou em alta também a questão das vitaminas. A vitamina D é aquela que fabricamos tomando 10 minutos de sol ao dia. Ela está em vias de ser reclassificada como um hormônio, visto que participa de todo o funcionamento do nosso organismo, sendo essencial para unhas, ossos, cabelos, agilidade mental, atuando na prevenção de câncer e de ansidade, assim como prevenindo doenças neurodegenerativas como Alzheimer, demência e outros, além de participar da nossa imunidade.

Por fim, falando sobre o sono vigília. É fundamental aproveitarmos a produção de melatonina pelo nosso organismo a partir das 22h, quando deveríamos estar dormindo. A melatonina nos descansa e conseguimos ter um sono restaurador. Caso opte- mos por dormir pós 1h da manhã e não acordemos entre 6h e 8h da ma- nhã, nosso organismo produz muito cortisol, que nos cansa e nos deixa sempre em alerta levando a sinto- mas de cansaço.

Em relação à imunidade nessa época de pandemia, além desses fatores individuais, temos que investir na imunidade coletiva, o que conseguimos através da vacinação em massa da população, lembrando que a melhor vacina é aquela que está no nosso braço! O vírus continua fazendo o papel dele tentando se multiplicar, adquirindo mutações nesse processo, mas poucas mutações são realmente capazes de implicar em maior transmissão e gravidade da doença. Continuemos a fazer nosso papel, tendo hábitos saudáveis de vida e tomando a vacina que o restante a ciência corre atrás!