Um olho no mercado e outro no futuro

31
Carlos Correa, Diretor Geral da APAS
Carlos Correa, Diretor Geral da APAS

Carlos Correa, Diretor-Geral da APAS – Associação Paulista de Supermercados – lidera a entidade para ser parceira estratégica do desenvolvimento dos negócios de seus associados, com uma governança sólida e uma gestão pautada na inovação, na transformação digital, na sustentabilidade e nos novos hábitos do consumo

No último mês de maio, a APAS – Associação Paulista de Supermercados – celebrou 54 anos de uma atuação sólida e abrangente em todo o Estado de São Paulo – presente em mais de 600 municípios. A trajetória da entidade, marcada pela resiliência e transformação, é fruto da atuação de uma liderança comprometida, com dirigentes, conselheiros e presidentes, como Carlos Correa, Pedro Lopes e Erlon Ortega, que, ao longo das décadas, reafirmaram seus compromissos com a evolução do setor supermercadista. Tendo como atual Diretor-Geral, Carlos Correa, executivo que está desde 1996 na APAS, a associação segue sendo fruto de uma gestão que vem fortalecendo ainda mais seu papel e sua relevância no Estado e no país. Sua atuação e estudos em diferentes campos – é graduado em Administração de Empresas com ênfase em Finanças pela FAAP, pós-graduado em Marketing pela ESPM, MBA em Administração de Varejo pela FIA-USP, além de ter formação como Conselheiro pelo IBGC – foram essenciais para a construção de sua visão estratégica, atenta às transformações do consumidor e às inovações do mercado, e dão o tom do que tem sido sua atuação de 28 anos na entidade. Correa desempenhou um papel fundamental para consolidar a APAS como um dos grupos mais influentes na defesa de interesses do setor supermercadista no Brasil, com uma gestão focada na transformação digital, na inovação, na governança e no crescimento sustentável.

Estamos falando de um setor que é um dos maiores empregadores de todo o Estado de São Paulo – mais de 669 mil. Sua atuação pioneira no fortalecimento da livre iniciativa no Brasil, bem como a incessante busca por inovações no varejo alimentar, a consolidaram como uma força política e institucional imprescindível ao desenvolvimento da economia do Estado e do país. Ao longo desses 54 anos, a entidade tem se destacado pela capacidade de antecipar tendências e propor soluções estratégicas que atendem tanto às necessidades de grandes redes quanto de pequenos e médios supermercadistas e atualmente sob a gestão de Correa, se mostra atenta as transformações do mercado, apoiando a flexibilização de leis trabalhistas para atender às novas demandas de trabalho dos profissionais.

Um dos grandes marcos da entidade foi a criação da feira de negócios APAS SHOW que, sob a liderança de Carlos Correa, tornou-se não apenas a maior feira de supermercados do mundo, mas também o maior evento de alimentos e bebidas das Américas, reunindo players de diversos portes para fomentar negócios, inovação e desenvolvimento. Mas, a postura da associação, segundo ele, vai além de ser uma entidade representativa. “Atuamos para sermos parceiros estratégicos do desenvolvimento dos negócios de nossos associados”, diz. E para isso, iniciativas não faltam. Além da APAS SHOW, a entidade promove a feira regional APAS Experience; o Encontros Supermercadistas; criou a Escola APAS, uma plataforma de capacitação técnica e gerencial; o Prontz, marketplace B2B para o varejo alimentar, a revista Super Varejo; e os Marcas Campeãs, além de oferecer consultoria aos seus associados. Nesse bate-papo com a Hands ON Magazine, Carlos Correa discorreu sobre sua gestão na entidade e como o setor vem se transformando para acompanhar as mudanças no comportamento do consumidor e do mercado, como a digitalização.

APAS Show
APAS Show

Como era a APAS há 28 anos e como a entidade está hoje sob sua gestão? Quais os principais desafios e conquistas?

Nesses 28 anos posso dizer que participei das grandes transformações do setor. Foram vários momentos marcantes e desafiadores que poderia citar, desde a pandemia, até todas as mudanças na economia que vivemos. Um dos grandes avanços da APAS nos últimos anos foi a modernização da gestão da entidade. Eu fui o primeiro Diretor-Geral nomeado na sua história de 54 anos e isso foi fundamental para que pudéssemos criar práticas de governança alinhadas às melhores metodologias de gestão, baseadas em dados e indicadores, assegurando decisões assertivas e foco em resultados. Esse movimento se consolidou com a adoção de práticas reconhecidas pelo Instituto Falconi, incluindo o uso de ferramentas analíticas que garantem clareza de objetivos e excelência no cumprimento das metas. As pessoas também são fundamentais nesse processo e a equipe que formamos ao longo dos anos faz parte dessa jornada e teve uma atuação muito relevante. Como resultado desse trabalho temos uma associação cada vez mais forte e reconhecida. Em 2024, a APAS consolidou sua estrutura institucional com um novo ciclo de expansão, alcançando 1.654 empresas associadas distribuídas pelo Estado de São Paulo, das quais 61% são pequenos negócios, reforçando a força do setor, representado por milhares de empresários, e uma atuação fortalecida por meio de suas 13 regionais e 3 distritais. Essa capilaridade permite à APAS um acompanhamento detalhado das particularidades locais, estabelecendo um diálogo constante com os supermercadistas e autoridades políticas locais. A ampliação da estrutura regional, a introdução de novos colaboradores e um planejamento estratégico focado na expansão e na melhoria contínua dos serviços evidenciam a postura da associação em ser, não apenas uma entidade representativa, mas também uma parceira estratégica para o desenvolvimento dos negócios de seus associados. O segredo é estar constantemente atento às mudanças e transformações que acontecem nos ambientes e nas relações de consumo. O principal desafio é continuar criando caminhos inovadores e eficazes para ampliar nossa base associativa e, assim, tornar a APAS ainda mais representativa.

Quais tendências e tecnologias já estão sendo adotadas pelos supermercados brasileiros e que serão altamente impactantes nos próximos anos?

O consumidor está cada vez mais atento e conectado às ações das marcas. Também busca cada vez mais personalização, mas valoriza autenticidade e ética. E o setor vem acompanhando essas transformações e usando as tecnologias, como automação e inteligência artificial, tanto no backoffice de loja, apoiando a operação e trazendo mais eficiência operacional, como também no front de loja, o que envolve desde a organização das lojas até a utilização de dados para antecipar as preferências dos clientes, como por exemplo caixas automatizados, self checkout, soluções de pagamento digital, sistemas de recomendação baseados em dados com ofertas direcionadas e programas de fidelidade com foco em atender às necessidades específicas do consumidor. Tudo isso vem proporcionando uma experiência de compra mais personalizada, eficiente e fluida para os consumidores. A omnicanalidade é um diferencial competitivo cada vez mais decisivo para o consumidor, e as novas plataformas e mídias, estão redesenhando a dinâmica do varejo e exigem atenção contínua das marcas. Importante dizer que o supermercado é um local democrático, e que atende os diferentes perfis de clientes, e a tecnologia precisa se adequar aos seus novos hábitos de consumo.

E com relação a sustentabilidade, como os supermercados têm evoluído?

A APAS tem compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade social e atua tanto no fomento dessas práticas com seus associados como internamente. Em 2024, a entidade arrecadou 279 toneladas de alimentos excedentes, que foram destinadas a entidades assistenciais, reduzindo o desperdício e promovendo a inclusão social. Além disso, recebeu a certificação I-REC (International Renewable Energy Certificate Standard), que comprova que, em 2024, 110% do consumo de energia elétrica dos 16 prédios que compõem sua sede e regionais foi compensado com fontes renováveis, em conformidade com critérios internacionais de rastreabilidade. Em paralelo, a entidade incentiva práticas de eficiência energética, reciclagem e o uso de fontes renováveis de energia, contribuindo para a preservação ambiental e a construção de um futuro mais sustentável para o setor. O uso de embalagens recicláveis, a redução de desperdício de alimentos e a eficiência energética têm se intensificado nos supermercados. Além disso, muitos estabelecimentos estão investindo em logística reversa e promovendo ações de doação de alimentos, como parcerias com programas como o Associação Prato Cheio e Sesc Mesa Brasil.

Quais são as principais preocupações da APAS em relação ao impacto das recentes ten- sões geopolíticas globais no abastecimento e nos preços dos produtos no Brasil?

A questão dos preços é bem sensível, o setor supermercadista é o propulsor da economia. Ao mesmo tempo, também é o primeiro a sentir os impactos da economia – a entidade tem um papel importante na formação de percepção do consumidor como repassador e não formador de preços. A APAS tem um sistema de inteligência de dados com um mapeamento preciso e atualizado de 10 mil itens. De acordo com o Índice de Preços dos

Supermercados (IPS), calculado pela APAS em parceria com a Fipe, a inflação do setor foi de 0,44% em fevereiro de 2025, desacelerando em relação a janeiro (0,51%), mas ainda acima do registrado no mesmo período de 2024 (0,41%). No acumulado de 12 meses, a alta dos preços nos supermercados paulistas chegou a 5,80%. Vale lembrar que a entidade tem atua dentro da esfera estadual, nas questões nacionais, a APAS apoia o trabalho liderado por João Galassi a frente da ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados.

Recentemente, a APAS se reuniu com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e com o prefeito de SP, Ricardo Nunes para discutir soluções para preencher 34,5 mil vagas abertas no setor no Estado de São Paulo e 8,7 mil na capital. Poderia comentar sobre as propostas da APAS para atender essa demanda?

A APAS tem um trabalho institucional muito relevante, atua por meio da representação e do desenvolvimento do varejo de alimentos nos principais fóruns de tomada de decisão, de forma em garantir que o setor permaneça capaz de abastecer a população de forma constante e segura, com foco no consumidor e gerando valor compartilhado para a sociedade. Hoje o setor possui mais de 34 mil vagas abertas no Estado de São Paulo e mais de 8 mil na capital. Nos encontros que fizemos discutimos soluções para o preenchimento dessas vagas e uma das propostas apresentadas foi permitir que os inscritos no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais) possam ter carteira assinada sem perder o acesso aos benefícios sociais. Atualmente, o comércio varejista de alimentos no estado de São Paulo emprega mais de 669 mil pessoas. E os supermercados são a porta de entrada do mercado de trabalho para muitos jovens, que têm nas lojas a oportunidade de desenvolvimento profissional e pessoal. Diante disso, a entidade propôs também a atualização das leis de trabalho com a implementação do modelo “horista” para atender a demanda da nova geração, que busca mais flexibilidade, demanda por mais liberdade de horários e novos formatos de trabalho. As duas propostas impulsionariam significativamente as contratações no setor. A APAS colocou sua sede à disposição para sediar debates sobre o tema com as autoridades responsáveis e enquanto o governo estuda as propostas, segue apoiando a ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados – em todas as iniciativas e discussões junto ao Governo Federal.

Como a entidade trabalha para fortalecer o setor supermercadista em capacitação e inovação?

A APAS tem trabalhado intensamente para fortalecer o setor supermercadista de diversas maneiras. Um dos nossos principais focos é a capacitação profissional, com a ampliação de treinamentos e programas educacionais para garantir que os colaboradores das redes supermercadistas estejam sempre atualizados e preparados para os desafios do mercado. Implementamos, para isso, a Escola APAS, uma plataforma de capacitação técnica e gerencial, que visa elevar a qualidade da gestão dos supermercados em todas as regiões do estado. Com a missão de oferecer ferramentas online e presenciais de educação continuada, a Escola APAS tem sido importante para a formação de profissionais do setor. Também oferecemos a Consultoria APAS, um atendimento feito por uma equipe de consultores especializados que oferece orientação técnica abrangente, sem custo adicional para os associados, suporte nas áreas jurídica, tributária, operacional, sustentabilidade, e meios de pagamento, sempre com foco nas especificidades do setor supermercadista. E pensando em facilitar a compra de produtos no varejo alimentar e conectar fornecedores supermercadistas de forma digital com benefícios financeiros para cada empresário do setor, em 2022 criamos o Prontz, um marketplace B2B com uma interface intuitiva que reúne em um mesmo ambiente virtual uma gama de opções para o empresário manter, abastecer e gerir seu supermercado, como máquinas, equipamentos, gôndolas, prateleiras, computadores, balanças, insumos e suprimentos.

Por Luciana Albuquerque      Fotos Gregory Grigoragi